Polícia

GCM e Secretário da Segurança Pública de SP são condenados por furtar carne; relembre caso

Secretário é investigado por liderar esquema de furtos e milícia privada dentro da Guarda Municipal  |  Foto: Reprodução

Publicado em 17/04/2025, às 10h14   Foto: Reprodução   Isabela Fernandes

Mesmo após ter sido condenado por furto qualificado em segunda instância, o atual Secretário Municipal de Segurança Urbana, Mobilidade e Defesa Civil de Ribeirão Pires, Sandro Torres Amante, continua no comando da pasta.

A condenação, que prevê pena de 2 anos e 11 meses de prisão, está sendo contestada por sua defesa no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A decisão foi tomada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) em janeiro deste ano, após o Ministério Público recorrer da sentença de primeira instância, que havia absolvido Sandro e outros envolvidos.

Furto planejado e execução coordenada

O caso teve início em 18 de junho de 2018, quando dois açougues no centro de Ribeirão Pires foram furtados quase simultaneamente, em uma ação considerada meticulosamente planejada.

Segundo as investigações, os crimes aconteceram em um intervalo de poucos minutos, e foram levados:

De acordo com o G1, os estabelecimentos furtados – Açougue Izzo e Açougue Parati – estão localizados a cerca de 300 metros um do outro. Os crimes ocorreram enquanto viaturas da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Polícia Militar foram desviadas da região central por conta de uma falsa denúncia anônima, criada para facilitar o furto.

Manipulação de câmeras e fuga coordenada

As investigações indicam que Gutembergue Martins Silva, inspetor-chefe da GCM à época, foi o responsável por redirecionar as câmeras de segurança da cidade para não registrarem a ação criminosa.

Segundo depoimentos, após o furto, o próprio Gutembergue permaneceu por horas na sala de monitoramento da GCM, possivelmente tentando apagar as imagens da noite do crime.

Ainda assim, uma testemunha protegida relatou que, ao retornar de uma pausa, conseguiu reposicionar uma das câmeras a tempo de capturar imagens fundamentais para identificar os envolvidos.

Nessas gravações, Sandro, Gutembergue e Marcelo Cruz Dallavali (ajudante geral e também condenado) aparecem dividindo os produtos furtados entre três veículos:

As imagens mostram os carros chegando juntos, estacionando próximos aos açougues, e depois deixando o local em comboio. Segundo apuração do G1, outros três indivíduos não identificados também participaram, fugindo a pé e entrando em um Fiat Siena que os levou até a capital paulista.

Condenação revertida em segunda instância

Inicialmente, a 1ª Vara de Ribeirão Pires condenou apenas Gutembergue. Sandro, Marcelo e outros investigados foram absolvidos por falta de provas suficientes. No entanto, o Ministério Público recorreu e obteve sucesso: a 5ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP entendeu que havia evidências suficientes para condenar também Sandro e Marcelo.

De acordo com o procurador Nadir de Campos Júnior, que assinou a apelação, os crimes ficaram “devidamente comprovados” com base nos boletins de ocorrência, imagens de segurança, depoimentos de testemunhas protegidas e relatórios técnicos.

A Justiça determinou ainda a perda dos cargos públicos de Sandro e Gutembergue, decisão que só será aplicada quando não houver mais possibilidade de recurso.

Apesar das denúncias, investigações e do processo judicial em curso, Sandro Torres Amante foi nomeado Secretário de Segurança Urbana em dezembro de 2023, ocupando um cargo de confiança da gestão do prefeito Gustavo Volpi (PL).

Formação de milícia privada é investigada

A situação se torna ainda mais grave com os desdobramentos das investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que identificaram indícios de uma milícia privada dentro da GCM.

Conforme apuração do G1, as denúncias indicam que alguns membros da Guarda, inclusive os condenados, atuavam junto a empresas de segurança privada para extorquir comerciantes e cobrar por proteção. O esquema seria baseado na ideia de “criar a dificuldade para vender a facilidade”.

Segundo uma das testemunhas ouvidas pela reportagem, após um furto, os mesmos agentes da GCM que atuavam nas ruas ofereciam serviços privados à vítima, alegando que poderiam garantir a segurança do local.

"Eles criam a dificuldade para vender a facilidade. De que forma? Seu comércio, sua residência é furtado e você faz o boletim de ocorrência. Sabendo disso, ele [Sandro], até porque participa dos crimes, vai até esse local oferece serviços [de segurança privada]. Você está fragilizado e acaba aceitando", revelou uma das fontes sob anonimato.

Ainda de acordo com o Ministério Público, os serviços prestados por essas empresas privadas estavam, muitas vezes, ligados à própria GCM, e a relação entre os crimes e os lucros obtidos por fora era evidente.

Relatos de corrupção e envolvimento com o tráfico

Além do furto, outras denúncias apontam práticas ainda mais sérias. Uma das delações feitas ao Gaeco relata que integrantes da ROMU, agrupamento especial da GCM, estariam envolvidos com o tráfico de drogas, recebimento de propina e extorsão a comerciantes.

Segundo o procurador Nadir de Campos Júnior, os guardas usavam a estrutura da segurança pública para fins próprios:

"O Ministério Público continua investigando pessoas que formaram a verdadeira milícia particular dentro da GCM. Isso fez parte da investigação do Gaeco que apontou que o trabalho de segurança privada para o município era desvirtuado da função de segurança pública para que os membros da própria guarnição pudessem desviar o foco das câmeras para que crimes de furto pudessem ser praticados na comarca de Ribeirão Pires"

O que acontece agora

A defesa dos acusados aguarda o julgamento do recurso no STJ, e até que não haja uma decisão definitiva (trânsito em julgado), eles seguem soltos e, no caso de Sandro, exercendo função pública.

A Justiça, por sua vez, determinou que, assim que o processo transitar em julgado, os três condenados devem cumprir a pena e perder definitivamente os cargos públicos. As investigações sobre milícia, corrupção e extorsão seguem em andamento.

Classificação Indicativa: Livre


Tags São Paulo GCM crime Investigação

Leia também


Caso Vitória: polícia faz nova revelação após sangue da vítima ser encontrado na casa de suspeito


SP acelera remoção da Favela do Moinho sob críticas de moradores; entenda