Entretenimento
por Isabela Fernandes
Publicado em 25/04/2025, às 08h00
Na última quarta-feira (23), a Netflix estreiou “Congonhas: Tragédia Anunciada”, série documental que mergulha nos bastidores do pior desastre aéreo da história da aviação comercial na América Latina. O acidente com o voo TAM JJ3054, em julho de 2007, deixou 199 mortos e expôs não só falhas técnicas, mas também um Brasil em colapso aéreo e político.
No segundo episódio da série, o foco vai além do momento do impacto. O documentário traz relatos inéditos de familiares das vítimas, investigadores, autoridades e nomes do alto escalão do governo federal da época — revelando como a tragédia se desenrolou em meio ao caos já instalado nos aeroportos do país.
Antes mesmo do acidente, o sistema aéreo brasileiro enfrentava sérios problemas: voos atrasados, greves de controladores de tráfego aéreo, filas nos aeroportos e uma série de problemas estruturais haviam colocado o setor sob pressão. A situação era tão crítica que a população exigia respostas urgentes do governo.
A tragédia em Congonhas escancarou essas falhas. A aeronave pousou em uma pista recém-reformada, mas sem as ranhuras de frenagem, os chamados grooves, que evitam aquaplanagem.
A pista, considerada curta e sem área de escape, havia sido liberada pela Infraero pouco antes do acidente, o que gerou questionamentos sobre a responsabilidade do governo federal e das agências reguladoras.
Erro humano e falhas técnicas
Relatórios oficiais do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) indicaram que a tripulação cometeu um erro técnico grave: o manete da direita não foi colocado em IDLE no momento do pouso.
Um dos motores estava em marcha lenta, enquanto o outro seguia com cerca de 80% de potência, o que causou um desequilíbrio crítico e dificultou a frenagem do avião, mesmo que a pista estivesse em perfeitas condições.
Esse detalhe técnico foi crucial para mudar a narrativa que, nos primeiros dias após o acidente, culpava exclusivamente o governo.
A resposta do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é analisada no episódio. A demora de três dias para um pronunciamento público gerou críticas da imprensa e da oposição.
Segundo Clara Ant, assessora especial de Lula na época, o presidente preferiu ouvir especialistas e entender todos os detalhes técnicos antes de falar publicamente.
Apesar da cautela, setores da sociedade chegaram a acusar o governo de negligência, e manchetes da época usaram termos como “assassinato de 200 pessoas”, pressionando ainda mais o Palácio do Planalto.
Além do choque nacional, a série mostra o drama dos familiares. A identificação dos corpos demorou até 30 dias em alguns casos, o que aumentou a dor e o desgaste emocional. Reuniões entre parentes e representantes da TAM foram tensas, e muitos questionamentos ficaram sem respostas por muito tempo.
“Congonhas: Tragédia Anunciada” não fala apenas sobre o desastre em si. Ela também fala sobre os elementos técnicos, o cenário político e o sofrimento de familiares em uma narrativa que busca entender por que aquela tragédia parecia tão inevitável.
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