Polícia
por Isabela Fernandes
Publicado em 11/04/2025, às 14h07
Uma operação conjunta das Polícias Civis do Rio de Janeiro e de São Paulo revelou um esquema de lavagem de dinheiro comandado por duas das maiores facções criminosas do país: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
As investigações apontam que os grupos, antes rivais, teriam se aliado em uma estrutura sofisticada e coordenada para ocultar o dinheiro do tráfico de drogas.
Segundo o relatório da Polícia Civil do RJ, a operação criminosa movimentou cerca de R$ 6 bilhões em apenas um ano, utilizando empresas de fachada, bancos digitais e intermediários financeiros em dois estados.
O dinheiro obtido com a venda de drogas era recolhido em espécie e depositado por “mulas financeiras” — pessoas sem antecedentes criminais usadas para tentar disfarçar a origem ilícita dos recursos.
Os valores, que variavam entre R$ 150 mil e R$ 750 mil, eram entregues em notas de pequeno valor. De acordo com a policia, os envelopes tinham cheiro de drogas.
Uma dessas operações foi flagrada em uma agência no bairro do Catete, Zona Sul do Rio, onde uma mulher foi presa com R$ 150 mil em uma mochila, prestes a fazer um depósito destinado a uma empresa em São Paulo.
O dinheiro era distribuído entre diversas empresas fantasmas, incluindo floriculturas, transportadoras, uma plataforma contábil e até uma perfumaria, a Ônix Perfumes, que ficava em uma casa em São Paulo. Apesar do endereço modesto, a empresa movimentou R$ 155 milhões em um ano.
A dona da perfumaria, identificada como Elisângela Gomes Franca, recebe auxílio emergencial e foi apontada pela polícia como "laranja" do grupo criminoso, pessoa usada para mascarar os verdadeiros operadores do esquema.
Uma peça-chave da operação era o banco digital 4TBANK, que movimentou cerca de R$ 1,4 bilhão entre janeiro e maio de 2024. O sócio oculto da instituição seria o cunhado de um dos chefes do PCC, segundo apontam os investigadores.
Por meio do banco, o dinheiro era enviado a instituições financeiras situadas em áreas de fronteira com países como Paraguai e Bolívia, regiões conhecidas como rotas do narcotráfico.
Parte do dinheiro retornava ao Brasil disfarçada como lucro de empresas no Rio, beneficiando diretamente o Comando Vermelho. Outra parte era reinvestida na compra de armas e drogas, contribuindo para o fortalecimento das facções.
O responsável por fazer a ponte entre PCC e CV, segundo a polícia, era Tiago Ferreira dos Santos, preso na cidade de Franca, interior paulista, na quinta-feira (10).
Ele teria atuado como operador financeiro do esquema, transferindo recursos para empresas de fachada em nome dos criminosos.
A ação, batizada de Operação Contenção, teve como foco impedir a expansão do Comando Vermelho na Zona Oeste do Rio, região onde a facção busca consolidar seu domínio.
Ao todo, 20 empresas estão sendo investigadas, e mandados de prisão e busca foram cumpridos em diversos pontos do Rio e de São Paulo — incluindo comunidades como Maré e Fallet-Fogueteiro, e cidades como Franca, Santos e Praia Grande.
A ofensiva contou com a participação de várias unidades especializadas da Polícia Civil, incluindo a Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), o Departamento de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e o apoio da Polícia Civil de São Paulo.
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