Polícia
por Isabela Fernandes
Publicado em 14/04/2025, às 10h45
Francisco Ferreira da Silva, de 80 anos, viveu um pesadelo no fim de 2024 após ser confundido com um criminoso procurado pela Justiça por causa do sistema de reconhecimento facial de São Paulo, o Smart Sampa.
Morador da zona leste de São Paulo e voluntário como jardineiro em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro Jardim Dom Angélico, ele foi detido por engano por causa de uma falha no sistema de monitoramento da Prefeitura, que usa reconhecimento facial.
Conforme apurado pela UOL, a abordagem aconteceu em 20 de dezembro, enquanto Francisco cuidava do jardim da UBS. Agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) abordaram o idoso e o levaram para averiguação em duas delegacias — primeiro em Itaquera e depois em São Mateus. O motivo: o sistema o teria identificado como um estuprador foragido.
A filha do aposentado, Adriana Ferreira, relatou ao UOL que, apesar de parecidos, o verdadeiro suspeito tem cerca de 40 anos, é branco, e não possui nenhum dado em comum com Francisco, que é pardo e tem idade bastante avançada. Ainda assim, a checagem de digitais demorou cerca de 10 horas, período em que ele ficou sob custódia policial.
Durante a ação, uma das netas de Francisco estava na UBS e presenciou a cena. Ela tentou intervir, mas não conseguiu impedir que o avô fosse levado. A família relata que, desde o episódio, o aposentado passou a sair de casa com medo, "disfarçado", para evitar passar por situação parecida.
Embora a Prefeitura de São Paulo tenha reconhecido o ocorrido e fornecido informações à imprensa, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirma que não encontrou nenhum registro da ocorrência nas delegacias envolvidas.
O advogado Alexandre Pacheco Martins, que representa os familiares de Francisco, afirma que tanto a administração municipal quanto a empresa responsável pelo sistema Smart Sampa devem ser responsabilizadas judicialmente. Para ele, faltam medidas preventivas e protocolos mais eficazes que evitem erros como esse.
O programa Smart Sampa, promovido pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), é considerado uma das vitrines do governo municipal. A cidade chegou a inaugurar um painel no centro, apelidado de "prisômetro", para mostrar o número de detenções realizadas com ajuda do sistema de vigilância.
No entanto, especialistas em direitos humanos e tecnologia vêm alertando sobre os riscos de confiar cegamente em ferramentas de reconhecimento facial como o Smart Sampa.
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