Política

Sala para usar drogas? Entenda o projeto de Suplicy (PT) para acabar com a Cracolândia

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A proposta projeta que os usuários da Cracolândia se sintam encorajados a iniciar um tratamento ou diminuir o uso de drogas  |   BNews SP - Divulgação Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcela Guimarães

por Marcela Guimarães

Publicado em 07/04/2025, às 16h11



Um projeto de lei do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) propõe a criação de salas seguras para usuários de drogas em diferentes regiões do estado de São Paulo, como parte de uma estratégia para acabar com a Cracolândia.

De acordo com o texto, os espaços também deverão oferecer serviços essenciais como alimentação, banho e cursos profissionalizantes, além do apoio de equipes multidisciplinares.

De acordo com o deputado, as políticas de combate às drogas atuais são ineficazes. “Tratamentos baseados apenas na abstinência nem sempre se mostram efetivos, muito menos o emprego de repressão policial e persecução penal contra os usuários”, mostra o texto.

A proposta tem como referência medidas adotadas na Europa. Na década de 1990, cidades como Frankfurt, na Alemanha, ou Zurique, na Suíça, implementaram salas supervisionadas para o uso de drogas e, com isso, conseguiram eliminar a concentração de usuários nas ruas.

A decisão veio após um longo período de repressão policial e políticas de tolerância zero que não geraram o efeito esperado.

Proposta de Suplicy

A ideia é acolher a população em situação de vulnerabilidade que consome, principalmente, crack e cocaína nas ruas de São Paulo.

A iniciativa quer oferecer um ambiente limpo e seguro onde os usuários possam lidar com a dependência, além de estímulos para diminuir o uso das substâncias. Todo o processo contará com o acompanhamento de profissionais da saúde especializados em redução de danos com a ideia de incentivar a busca pelo tratamento.

Conforme o projeto, antes de entrarem nos espaços, os usuários passarão por triagem e receberão orientações sobre práticas mais seguras e controle de dosagem.

Experiências internacionais indicam que a implementação dessas salas não provocou aumento no consumo e nem incentivou novos usuários. A ideia é que os espaços funcionem como um local de convivência, oferecendo atividades e serviços complementares.

As drogas não serão fornecidas nesses locais. Embora estudos mostrem que as salas não reduzem o tráfico, pesquisas destacam que a proposta pode ter efeitos positivos e limitados, já que os usuários continuarão adquirindo de forma ilegal.

A proposta apresentada por Suplicy tem como foco diminuir o consumo de drogas ao ar livre, o que pode contribuir para uma maior sensação de segurança pela região.

Lei das Drogas

Pesquisas alertam para possíveis implicações legais envolvendo tanto os usuários quanto os profissionais que atuarem nas salas.

A atual Lei de Drogas prevê penas de um a três anos para quem “induzir, instigar ou auxiliar ao uso indevido de droga”. O artigo 34 também proíbe a distribuição ou fornecimento de equipamentos, instrumentos ou qualquer objeto destinado à preparação das substâncias; ou seja, os próprios usuários poderiam ser presos ou processados por conta desses espaços.

O projeto prevê que as salas contem com a presença de pesquisadores que poderão avaliar anualmente o impacto da política. Há a possibilidade de que os espaços sejam implantados em estruturas já existentes, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Muro erguido na Cracolândia
Prefeitura de São Paulo chegou a erguir muro na Cracolândia (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Críticas do prefeito

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) criticou o projeto de lei em questão. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, ele acusou Suplicy de promover uma “apologia” e incentivar o consumo de drogas; como resposta, o deputado afirmou que o enfrentamento “não comporta leituras simplistas, emotivas e imediatistas”.

Investimentos

De acordo com o estudo orçamentário, cada unidade deve ter um investimento anual de R$ 1,27 milhão e contar com uma equipe composta por 15 profissionais, incluindo coordenadores, supervisores clínicos, advogados e redutores de danos.

A proposta parte da expectativa de que, ao frequentar esses espaços, os usuários da Cracolândia se sintam encorajados a iniciar um tratamento ou diminuir o uso de drogas.

O projeto segue em análise na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e, após essa etapa, poderá ser levado à votação no Plenário pelos demais deputados.

Classificação Indicativa: Livre

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